sexta-feira, 23 de março de 2018

Zanzibar


O ideal teria sido uma semana por aqui. Mais do que o suficiente para quem não é muito chegada a ficar fazendo nada na praia. Mesmo essas lindas.  Por conta do Kilimanjaro 1 X Sonia 0,  ficarei por aqui quase 2 semanas. É muitoooo.
Já nem me perco mais no labirinto do Slave Market. Como vou lá praticamente todos os dias, estou conhecida. Jambo, Sau Pauló. Nêymar Ronaldinio... Tudo bem, vai. Respondo Jambo, Asanti (obrigada) e continuo. Cidade mussulmana. Não é para ficar de risadinha na rua.


Começo a me sentir em casa quando ninguém me oferece mais táxi. E os guias desta área já desistiram de mim. Ufa!!! Deus é pai.
Entre o hotel e a viela onde começa o mercado, quase em frente a casa do Freddie Mercury, (sim, somos praticamente vizinhos) tem uma loja grande, chiquezinha, para turista rico. E tem um ar condicionado maravilhoso.


Sempre dou uma paradinha lá. (compro é nada! Hahaha! Mas eles não se importam.) Estava lá no imã de geladeira quando ouvi um "olha isso...olha aquilo"... gente que saudade! Corri logo prosear achando que, pelo sotaque, eram portugueses. Nadaaaa! Mineiros de Belzontch! Foi uma alegria. A dupla estava rodando a África toda já há quase um mês. Pena que iriam embora em 2 dias. 


Combinamos de jantar e eu só não fui com eles no outro dia conhecer Dar El Salaam pq já tinha pago um passeio em Prision Island.  E também pq Dar El Salam é uma cidade grande, não tem nada por lá que eu queira fazer. Além disso, na volta, vou ficar 8 horas parada lá. Li que na saída da balsa Salaam /Zanzibar o assédio é na base do empurra empurra. Tô fora.  Não quis brochar meus novos amigos e marcamos de jantar novamente na noite seguinte. Dito e feito. Os mineirim estavam até falando rápido. Assustados.


Um deles havia comido uns trem lá, somou com os "nervoso" que passou, acabou que teve um piripiri medonho!
No outro dia de manhãzinha baixamos hospital. Bruta infecção intestinal. Mas, super bem atendido, em 6 horas estava em condições de pegar o vôo de volta para casa.

Os passeios que fiz até agora:

                  Blue Safari


 Legal. Passeio de 1 dia com tudo incluído.  Menos bebida alcoólica. Foi o mais caro, mas valeu cada centavo. Tanto pelas paradas para snokelling, pelas praias que parecem fotografias quanto pelo almoço surpreendente.


Uma fartura de polvo camarão lula e lagostas! Tudo grelhado e vc come até cair desmaiado. A bebida é água e refrigerante. Abacaxi, banana, melancia e jaca também à vontade. Tudo extremamente simples. Barco feio, equipamento lascado, salva vidas nem tinha. Nunca tem!


Mas as comidas e os lugares... um luxo! À bordo éramos 10 turistas mais o capitão e uns 3 ajudantes. Ainda bem que todos sabiam nadar! Hahahaha!


            Swiming Dolphins


Nesse tour não teve nem água. Ainda bem que ando sempre com minha garrafa. 40 dólares. Mais ou menos 1 hora de carro até Unguja, e mais uns 30 minutos de barco (sem cobertura) procurando o ponto onde os golfinhos estão. Era para ser um grupo, mas não conseguiram e eu peguei essa boiada. Sorte! Rsrsrs


Aí é o seguinte: vc se prepara com o equipamento de snokelling, nadadeiras, senta na beirada do barco e aguarda o capitão mandar vc se jogar na água para nadar com os golfinhos. Eles ficam à sua volta de 5 a 10 segundos e seguem o caminho. Impossível acompanhar.


Tira nadadeira e sobe no barco. Prepara. Aproxima.  Se joga de novo.  Nada com os golfinhos. Sobe no barco. Prepara. Aproxima. Na 5a subida no barco, as pernas começam a tremer... mas gente. Que coisa emocionante. São selvagens... curiosos e dóceis. Estava tão empolgada!
Cheguei a passar a mão em um. Fiz fotos e quando quis filmar, já no final, não  consegui algo que demonstrasse o que foi esta experiência. O corpo muito cansado e o fôlego destruído. Estava exausta.


 Acho que me joguei naquelas águas umas 12 vezes. Voltaria para fazer imagens bacanas... como as que ficarão para sempre na minha memória. Valeu.

                  Prision Island


Peguei um passeio em grupo. Já que não tinha mais ninguém, uma das moças que vendem pacotes turísticos na agência convocou a família e lá fomos nós.


Irmãs, sobrinha, irmão e primo. Pelo menos foi isso que entendi. Família mussulmana. Quando as mulheres tiraram as túnicas e os véus pareciam outras pessoas. Até na postura.


Nesta ilha, que era para ser prisão mas foi um hospital onde os doentes ficavam de quarentena, existe um santuário de tartarugas gigantes.


O lugar é paradisíaco. Pouco frequentado (estranhei isso pois fica bem perto de StoneTown. 20 minutos de barco, no máximo). Uma das praias mais lindas que já vi na vida.


                       Museus

Fui em todos. Caros, feios, mal cuidados (sujos mesmo), desmoronando. O anfiteatro também. Poxa!






Conservatório Dhow Countries Music Academy


Dei de cara com ele. Ia passando, entrei para xeretar e acabei ficando uma tarde inteira lá. Afro - Jazz é uma conversa longa. Coisa linda e chique.

                 Scuba Diving


Eu sempre tenho medo. Na noite anterior quase não durmo de tão ansiosa que fico.
Encontrei o Zanzibar Dive Centre One Ocean bem rápido. Acho que logo no primeiro dia aqui. Entrei várias vezes  mas fiquei enrolando até tomar coragem.  Todo dia eu falava: Amanhã eu vou. Rsrsrsrs Daí que fui.


Sou iniciante, não quero ficar assim para sempre. E estar em Zanzibar e não mergulhar seria uma tragédia. O medo maior, na verdade, é que aqui, até onde vi, é tudo muito solto. A precariedade é grande e regra de segurança, definitivamente não é o forte de Zanzibar. Fiquei assuntando no centro de mergulho com muito cuidado para não ofender. Olhei o que pude, me benzi e... fui, né.


O sistema é o mesmo do curso que fiz em Ko Thao. PADI. O gerente (um semi deus holandês de uns 40 anos) me tranquilizou bastante. Acho que percebeu minha aflição. Várias mulheres no grupo, barco bem simples, roupas danificadas, mas o equipamento parecia bem ajustado.





E foi perfeito. Só o mergulho, já valeu minha vinda até Zanzibar.  O que tem a cidade de precária, tem o mar de exuberante. Uma beleza bruta que emociona. Tudo ali para vc sem pedir nada em troca.  Abundante, generoso, dócil. Lindíssimo. Um mundo de corais super habitados.


Nenhuma foto ou filmagem que eu fiz ou que já vi sobre esse lugar, traduz. Babei. Quando penso que quase perdi isso por medo... dá até um mal estar. Ufa!

segunda-feira, 19 de março de 2018

Stone Town


Sei lá. Fico sentindo um "climão" pesado. Um certo desconforto... e aperto o passo. Não é medo. É outra coisa.
Me acho bocó por sentir isso enquanto ando por essas vielas estreitas chapadas de lojinhas e turistas.


A gente se perde e se acha o tempo todo. Já estive em lugares assim sujos feios abafados em outros cantos do mundo. De boa.


 Não sou nada fresca, adoro perambular, interagir e aqui é seguro. Câmeras de vigilância e guardas garantem a segurança neste enorme labirinto. Mas existe um pesar imenso nessa parte da cidade.


Os prédios e suas portas árabes entalhadas da época dos mercadores de gente e de especiarias, parecem que vão desabar a qualquer momento. Quase tudo está em péssimo estado de conservação.


De repente, se vê uma fachada restaurada. É um hotel 4 estrelas com preço de 5, as acomodações de 3 e serviço de 2. Rsrsrsrs.
Aqui é meio que assim. Nada muito confiável. É na sorte. Depois de alguns dias, a gente fica expert.


Nestes primeiros dias, estou em um hostal, pra não perder o costume. Mas vou me mudar. Arrumadinho, pessoal bacana e solícito,  porém o calor intenso, o colchão "ferra lombar" e o chuveiro conta gotas me empurram para um hotel com ar condicionado. Mesmo que funcione meia boca.


Os tours são superfaturados dependendo da cara ou do hotel do freguês. É cultural e eles nem se constrangem quando vc acaba fechando pela justa e honesta metade do preço.



Tenho que abrir um parêntese para os cafés e restaurantes que são muito bons. Achei incrível no meio de tanta falcatrua a comida tão gostosa, com excelente apresentação a um preço justo. Também estou comendo nas tendas de rua.



Você pede um feijão com arroz e peixe em um boteco e vem tudo arrumadinho além de uma delícia! Quem não gosta?


Estranho não ter lido sobre isso em nenhum blogue,  nem site de viagem. Li sobre o assédio dos atravessadores, guias, problemas com água e wifi, etc.


Quanto a isso tudo bem por que já cheguei vacinada de Arusha e do Kilimanjaro. Aqui é até menos. Acho que as pessoas preferem falar das praias selvagens lindíssimas (verdadeiras pinturas) onde ficam os resorts cinematográficos. E realmente são. Bom para se isolar de tudo ou para casais, em paraísos no meio do nada lá perto de coisa nenhuma. Não é meu caso. (Ô dó!)


Então, Stone Town é minha parada obrigatória! A capital do arquipélago. Daqui partem os passeios para todos os lugares e tudo mais. Prático! Restaurantes, lojas, o tradicional mercado, museus, mesquitas e muitos hotéis para todos os bolsos.


Aqui está a origem... a história. Patrimônio mundial tombado pela UNESCO. E parece estar prestes a tombar mesmo.
Muitos turistas. A cidade fervilha quase o ano todo! Sonho de consumo de todo lugar com essa vocação. E mesmo assim... muito muito abandonada.


As mulheres se cobrem com lenços super coloridos (lindos demaaaais) e vi poucas de negro. Aqui a maioria da população é muçulmana. A pechincha é obrigatória e os preços raramente etiquetados, já são dobrados ou triplicados.


Muita tranqueira bonita e embora nada seja muito barato, dá para comprar sim. É só não ter preguiça de pechinchar. Eu tenho. Mas comprei um vestidinho.
Acho que o pesar aqui é histórico.


Não senti a energia contagiante das tribos do norte.
É o tamanho da barbárie que aconteceu por tanto tempo neste lugar, sentido deste ângulo. O resultado palpável do lado de cá.


Tantas gerações se passaram... Desde que os árabes começaram o comércio humano.
Dói entrar no museu dos escravos, ver aqueles cômodos, utensílios, imagens, ler a respeito das ocupações, depois sair e olhar em volta.


Parados no tempo... As pessoas, as ruas e as casas. Sentir que esse local levará séculos para se recuperar. Se é que um dia vai se recuperar.Tenso.
Dá pra sentir. Juro que sinto. E sinto muitíssimo!


*Mas ó, os programas são imperdíveis. Já fiz 2 e amanhã vou mergulhar. Depois conto tudo.
*Eu precisava escrever logo sobre essas sensações antes que as perdesse nas belezas naturais deste paraíso.
*Se quiser saber a respeito da história da rota dos escravos em Zanzibar, dê uma lida  nos links que colei abaixo. Sou fã deste casal português. Um resumo bacana com uma ótima narrativa. Recomendo!

Carla Mota é geógrafa e Rui Pinto, físico. Mochileiros

https://www.viajarentreviagens.pt/tanzania/zanzibar-rotas-dos-escravos/
https://www.viajarentreviagens.pt/tanzania/stone-town-zanzibar/